"Pense num dia qualquer, e o subtraia, e veja que, sem ele, sua vida teria um rumo inteiramente diferente. Faça uma pausa, você que lê estas palavras, e, por um momento, pense na imensa corrente de ferro ou de ouro, de espinhos ou flores, que talvez jamais o tivesse encadeado, não fosse a formação do primeiro elo de um dia memorável." (Charles Dickens).
“Sabe aquele tipo de cara que não
faz nada além de coisas más e ainda se pergunta por que a vida é uma droga?
Bem, eu era assim. Toda vez que uma coisa boa me acontecia, uma coisa ruim
sempre estava esperando para acontecer. Carma. Foi quando eu percebi que tinha
que mudar. Então fiz uma lista de todas as coisas más que tinha feito e, uma
por uma, vou compensar todos os meus erros. Estou apenas tentando ser uma pessoa
melhor. Meu nome é Earl.”
Essa é a abertura da série
americana “My name is Earl” e ela já diz tudo, ou quase tudo, sobre a série.
Earl, uma caricatura do cara “malandro”, que faz de tudo para tirar vantagem de
qualquer situação, que não tem vergonha em não trabalhar e se sustentar com
pequenos roubos e furtos. Ele e seu irmão, Randy, inseparáveis, vivem como
nômades, sem residência, sem trabalho e cometendo delitos no condado de Camden,
onde são muito conhecidos pelos moradores.
Um dia Earl compra um bilhete de
loteria e ganha 100 mil dólares. Eufórico, sai correndo pela rua com o bilhete
premiado e é atropelado. Ele acorda no hospital, enfaixado e sem o bilhete. Durante
sua recuperação ele conhece, através da TV, o Carma. Mesmo confuso sobre o que
é Carma e quem o criou, ele coloca uma coisa em mente: faça coisas boas e coisas
boas acontecem. Ao sair do hospital, decide fazer uma lista de todas as coisas
ruins que já fez (a lista é enorme) e compensar por cada uma delas. Ele começa
juntando lixo do chão, para compensar o item 136: “Eu jogava lixo no chão”. Seu
irmão, o Randy, não gosta da ideia e tenta convencer Earl para deixar a lista
de lado. Enquanto ele recolhe o lixo do chão, encontra o bilhete premiado que
havia perdido no acidente. Convicto que aquilo foi um sinal do Carma, Earl pega
o dinheiro do prêmio e se dedica exclusivamente em realizar os itens da lista.
A partir daí, os episódios da
série se baseiam em Earl concertando o que já fez de errado. Mas não é tão
simples assim. Na maioria das vezes ele se depara com situações muito
complicadas ou cômicas. Tem vezes que ele concerta um item, mas acrescenta
outros na lista. Como, por exemplo, o item 112: “Deixar Donny Jones cumprir
pena por um crime que eu cometi”, se torna muito difícil e delicado.
Mas a série não é baseada apenas
em Earl. O irmão dele, Randy, também é destaque. Com certo tipo de déficit de atenção,
Randy é o típico palhaço da turma. Com uma mentalidade infantil em um corpo de
adulto, ele acompanha Earl em todos os lugares e faz tudo que o irmão manda. Os
dois formam uma dupla que eu considero uma das melhores e mais divertidas do
mundo das séries de TV.
Além dos irmãos, a série explora
muito a ex mulher de Earl, Joy, o atual marido dela o “Crab Man” e a camareira
do motel onde eles moram, a Catalina. Outros personagens com o tempo se tornam
corriqueiros também, como, por exemplo, os pais de Earl. O humor de "My name is Earl" é diferente do humor das atuais séries do gênero. Me lembra muito o "Chaves". É ao mesmo tempo malicioso e inocente. Tem piadas que só os adultos entenderão, e outras que toda a família poderá dar risada. É um seriado diferenciado. Ficha: Título original: My name is Earl Estreia: 2006 Gênero: comédia Duração por episódio: 20 min Origem: EUA Elenco principal: Jason Lee (Earl); Ethan Suplee (Randy); Eddie Steeples (Crab Man); Jaime Pressly (Joy); Nadine Velazquez (Catalina). Número de temporadas: 4.
A mitologia grega sempre é rica
em histórias e lendas. Reais ou não, encantam todo mundo. A indústria dos
desenhos animados, cinematográfica, da televisão, a indústria do consumo no
geral, soube se aproveitar muito bem dessas lendas e criou um amplo mercado em
torno da Grécia. Desenhos, filmes e seriados sobre a mitologia grega fazem
parte da nossa cultura desde sempre.
Quem, entre 20 e 30 anos, não
assistiu, na infância, ao menos um episódio do seriado “Hércules”, que era
transmitido pelo SBT e futuramente pela Record? Hércules e Iolaus formavam uma
dupla imbatível. O seriado foi gravado entre os anos 1995 e 1999, e chegou ao
Brasil alguns anos mais tarde.
A Disney também se aproveitou da
“febre” grega e produziu um seriado em desenho animado, entre os anos 1998 e
1999, que foi ao ar no Brasil até meados de 2003, no programa infantil “Disney
Cruj”,
Mas quem é Hércules? Bom, segundo
a lenda, Hércules é o filho de Zeus, o Deus dos Deuses, com uma mortal.
Portanto, Hércules seria um semideus e ninguém sabe se ele é mortal ou imortal,
mas possui uma força extraordinária e se torna um mito por onde passa. Na
história original, Hera, esposa de Zeus, ao saber da traição de seu marido com
uma mortal, fica com ódio de Hércules e tenta matá-lo de qualquer forma. Sem
êxito, ela faz um feitiço atingir seu enteado e, em um ataque de loucura, Hércules
acaba matando a esposa e seus três filhos. Após o ocorrido, os Deuses do Olimpo
julgam Hércules e, para perdoá-lo, estipulam um desafio: os doze trabalhos. Os
famosos “Doze trabalhos de Hércules”, são doze tarefas incumbidas ao mito que
incluem enfrentar gigantes e outros seres da mitologia grega. Hércules consegue
passar pelas doze tarefas com sucesso e acaba perdoado pelos Deuses, passando a
viver livre.
A indústria do entretenimento
colocou Hércules na geladeira por um bom tempo. Mas, ano passado, o diretor
Brett Ratner deu nova vida ao semideus da mitologia grega. No filme “Hércules”
Dwayne Johnson interpreta o semideus em uma jornada um pouco diferente das
vistas nos outros filmes do gênero. No filme, Hércules vive afastado da
sociedade, junto com um grupo de mercenários e sobrevive usando sua força para
realizar trabalhos em troca de ouro.
Procurado pela Princesa Ergenia (Rebecca
Ferguson), Hércules e seu grupo recebem uma proposta tentadora: se juntar ao
exército de Trácia para enfrentar uma rebelião comandada por Resus (Tobias
Santlemann) em troca de muito ouro. O Rei de Trácia, Cotys (John Hurt), dá
total liberdade para Hércules transformar os soldados do reino em verdadeiros
guerreiros. Quando a guerra eclode, o exército comandado por Hércules consegue
uma grande vitória. Na hora de receber o pagamento, Hércules se dá conta que
caiu numa emboscada e que o Rei Cotys é um sanguinário que tem planos perversos
para ele. Tentando escapar de Cotys, Hércules tem que enfrentar seus traumas do
passado, seus medos e vai precisar contar com a ajuda da sua equipe para tomar
o controle da situação e destruir o reinado de Cotys.
Ficha:
Nome original: Hércules
Ano:2014
Duração: 98min
Diretor: Brett Ratner
Atores principais: Dwayne Johnson (Hércules); John Hurt (Cotys); Reece Ritchie (Iolaus); Tobias Santlemann (Resus).
Entre 1971 e 1979, Uganda, país
Africano, sofreu com o regime ditatorial de Idi Amin Dada. O ditador foi
responsável por um governo cruel, que matou milhares de pessoas. Uganda
conquistou sua independência do Reino Unido em 1962 e passou a adotar um regime
presidencialista, pelo menos no papel. Após um golpe de Estado, Amin assumiu as
rédeas do país. Em meio a corrupção, o presidente fez de tudo para calar os
adversários, encobrir suas falcatruas e driblar a opinião pública.
No filme “O último Rei da
Escócia”, a vida pública e pessoal de Amin é retratada de uma forma muito
criativa. Através da história fictícia do Doutor Nicholas Garrigan (James
McAvoy), as barbáries de Amin (Forest Whitaker) são mostradas detalhadamente em
mais de duas horas de filme.
Recém formado em medicina,
Nicholas tem o desejo de fazer algo grandioso e decide viajar para Uganda, para
trabalhar como médico voluntário em uma comunidade local. Só que ele chega em
uma péssima hora no país Africano: durante o golpe militar. Em meio ao golpe, o
país se transforma em um caos e os hospitais, precários, estão lotados de
pacientes.
O médico começa seu trabalho com
muito empenho e logo conquista a simpatia dos moradores, por ser atencioso e
eficiente. Até que um acontecimento muda o destino da vida do médico. Idi Amin
Dada visita a comunidade e seu discurso encanta Nicholas Garrigan, que
simpatiza com o novo presidente de Uganda.
Ao voltar para a Capital, Amin sofre
um acidente de carro nos arredores da comunidade e Nicholas é incumbido para
tratar os leves ferimentos do ditador. Durante os cuidados do médico, Amin
simpatiza com Nicholas e os dois se tornam amigos. Tempo mais tarde, o
governante o convida para ser seu médico particular. Apesar de surpreso e com
um certo medo, Nicholas aceita e se muda para a Capital.
Com o passar do tempo, os dois
ficam ainda mais próximos. Nicholas se torna, além de médico, o braço direito e
conselheiro de Amin e começa a se envolver com questões políticas. Cada vez
mais infiltrado no governo do ditador, Nicholas começa a ver as atrocidades
cometidas pelo governante e fica indignado, a ponto de largar tudo e querer ir
embora.
Só que Amin o mantém no país,
confiscando seu passaporte e fazendo ameaças ao médico. A partir dai, Nicholas
se vê em um beco sem saída e chega a conclusão que está lidando com um monstro.
Pelo papel do tirano, o ator Forest Whitaker ganhou o Oscar de melhor ator. Justíssimo. Whitaker encarnou o ditador de uma forma tão profunda que determinados momentos do filme parecem que são reais. James McAvoy não ficou muito atrás, mas o Doutor Nicholas Garrigan foi um personagem inventado, diferente de Idi Amin Dada. A responsabilidade em interpretar alguém que de fato existiu e ainda por cima alguém tão cruel e complexo quanto um Ditador é enorme. Mas o filme foi muito bem feito, muitas vezes ao estilo documentário, e o diretor soube aproveitar esses elementos e o talento do protagonista. Esses filmes, que procuram relatar algum momento histórico, são como livros de história e devem ser apreciados, assistidos, indicados, enfim, compartilhados.
Ficha:
Nome original: The Last King of Scotland
Ano: 2006
Diretor: Kevin Macdonald
Gênero: Drama
Atores principais: Forest Whitaker (Amin); James McAvoy (Nicholas).
Três histórias que se passam em
épocas diferentes. Na Espanha do século XVI, o explorador Tomas Creo (Hugh
Jackman) é enviado para o “novo mundo” com o objetivo de encontrar a lendária
árvore da vida. Diz a lenda que esta árvore está escondida graças aos Maias e
que, quem beber de sua seiva, terá vida eterna. Ambiciosa e em busca da
juventude, a Rainha Isabel da Espanha (Rachel Weisz) promete se casar com o
explorador, caso ele consiga localizar a árvore. O aventureiro aceita a
proposta apenas por causa do amor que tem pela Rainha, mas incrédulo, pois não
acredita em lendas e muito menos em histórias bíblicas.
Nos tempos atuais, o médico
pesquisador Tommy Creo (Hugh Jackman) vive com o drama de amar alguém com
câncer em estágio avançado. O doutor é casado com Izzi (Rachel Weisz), que luta
contra um severo câncer. Tommy divide seu tempo entre cuidar da esposa e fazer
experimentos no laboratório. Em um desses experimentos, ele e sua equipe
aplicam uma substância nova encontrada em uma árvore na América Central em um
chimpanzé com um tumor maligno na cabeça. Para a surpresa de todos, a doença
regride e as células do local onde foi aplicada a substância param de
envelhecer. Tommy vê uma luz no fim do túnel e corre desesperadamente contra o
tempo e contra todos para tentar salvar sua mulher e ir atrás dessa misteriosa
árvore. Enquanto luta contra a doença, Izzi escreve um livro, no qual conta a
história da “Fonte da Vida”, uma árvore da época de Adão e Eva, que tem o poder
de proporcionar a vida eterna.
No século XXVI, o astronauta Tom
(Hugh Jackman) se encontra em um lugar misterioso tentando desvendar mistérios
da criação e se depara com uma misteriosa árvore, que tem todas as respostas
para as questões da humanidade.
Deu pra perceber que as três
histórias são protagonizadas pelos mesmos personagens. Em épocas muito
diferentes. Conforme o filme vai evoluindo, estas três histórias se interligam.
Não me pergunte como, pois tiraria toda a graça se eu contasse. Os enredos se
juntam, em torno de um único objetivo: desvendar o mistério da “Árvore da
Vida”, ou “Fonte da Vida”. Um filme que mistura ciência, religião, mitologia,
folclore e história.
Se fosse dar uma nota ao filme,
daria seis. Porque, apesar de todos esses elementos, o filme não encanta como “Cloud
Atlas” encantou com suas histórias paralelas sobre reencarnação. O filme sofreu
um corte radical no orçamento e chegou a ter as gravações encerradas, mas o
diretor conseguiu o ressurgimento do filme, porém com um orçamento pela metade
do original. Inicialmente, o papel de Tommy era para ser de Brad Pitt, e Hugh
Jackman entrou após os cortes no orçamento. Mas, a meu ver, a mudança dos
atores não prejudicou o filme. Talvez a questão orçamentária, sim. Um exemplo é
a duração do longa. Pela profundidade da história (na verdade são três
histórias), os 90 minutos (apenas) de filme são poucos e ainda assim em certos
momentos ele fica muito parado. Mas a moral da história é muito boa e vale a
pena assistir.
Véspera de virada de ano. Uma
grande cidade do Reino Unido está em festa, como o resto do mundo. A jornalista
e fotógrafa Jennifer Preston (Natalia Tena) está em seu apartamento comemorando
a dada, junto com seu namorado e funcionário do governo, Jonas (Iwan Rheon).
No momento do show de fogos, porém,
ocorre uma grande explosão em uma casa noturna no centro da cidade. A explosão
é vista por Jennifer e Jonas pela janela do apartamento. Mais de duzentos
jovens morrem com o incidente e o exército isola uma área de 8km² ao redor do
local da explosão. As pessoas ficam confusas com um isolamento tão grande e
logo é divulgada a informação que a área está em quarentena e que a explosão
liberou resíduos tóxicos na cidade. O governo e as autoridades supostamente não
sabem a origem da explosão, mas divulgam que a mesma danificou um depósito
subterrâneo antigo de armas, por isso que todos os moradores da cidade correm o
risco de contaminação.
Instigada e desconfiada de que o
governo está escondendo algo, Jennifer começa a perambular pelos arredores da
área da quarentena com sua câmera fotográfica e trava uma briga com seu
namorado, Jonas, que insiste em dizer que o governo não está omitindo nada.
Coincidentemente (ou não...), a
cidade vive um surto de suicídios bizarros, o que deixa os moradores mais
apavorados ainda. Jennifer, em uma dessas aventuras ao redor da quarentena, se
depara com uma jovem que comete suicídio na frente da jornalista. Assustada,
mas curiosa ao mesmo tempo, Jennifer fotografa o corpo da jovem.
Em casa, ao passar as fotos para
seu computador, a jornalista/fotógrafa vê algo revelador e passa a ficar mais
desconfiada com o governo. Ela tem certeza que a explosão não foi um acidente e
que talvez forças sobrenaturais estejam por trás disso tudo. Jonas também
começa a desconfiar dos seus superiores e consegue entrar escondido na área da
quarentena.
Percebendo o desaparecimento de
Jonas, Jennifer vai atrás do namorado e também entra na área proibida. Lá
dentro, os dois se deparam com algumas verdades e são perseguidos pelo
exército. Tentando fugir, os dois ao
mesmo tempo buscam a verdade por trás disso tudo.
O filme é razoável. Não tem nada
de especial, mas é bom, especialmente a trilha sonora, que dá um ar de total
suspense ao longa. A falta de informações quanto ao motivo do incidente
principal do filme pode ser interpretada como algo positivo ou negativo. É algo
positivo porque o suspense está presente desde o início do filme. Pode ser
considerado algo negativo para quem busca respostas, principalmente na parte
final do filme.
A questão do sobrenatural é pouco explorada e às vezes até
surge a dúvida se é algo sobrenatural ou não. O filme é um pouco confuso nesse
sentido. Mas os principais personagens são bem explorados. O relacionamento
entre Jennifer e Jonas tem espaço, pois a história toda se passa
praticamente em torno deles. E ninguém tem superpoderes, apesar dos elementos
"do outro mundo".
Destaque também aos atores que interpretam o casal principal do
filme. Natalia Tena e Iwan Rheon são mais conhecidos por interpretarem Osha e
Ramsay em Game of Thrones. Ótimos atores. Então o filme está em boas mãos. Recomendo.
Para quem quiser sair um pouco da rotina de heróis, efeitos especiais incríveis
e vampiros com poderes, é um bom filme. Lembrando, para assistir sem muitas
expectativas.
Natalia Tena e Iwan Rheon
Ficha:
Título Original: Residue Ano de Lançamento: 2015 Gênero Drama País de Origem Reino Unido Tempo de Duração: 102 minutos Direção Alex Garcia Lopez
Elenco principal: Natalia Tena (Jennifer); Iwan Rheon (Jonas); Danny Webb (Emeril Benedict); Franz Drameh (Willy G).
“-Sim, minha mãe tinha tanta certeza que viria uma menina,
que foi logo escolhendo o nome.”
Esse diálogo marca o primeiro encontro entre o doutor Alfred
Blalock (Alan Rickman) e o humilde
carpinteiro negro Vivien Thomas (Mos Def), em fevereiro de 1930. Thomas era um
excepcional trabalhador, mas foi demitido por causa da crise, ou “grande
depressão”, que começava a prejudicar os trabalhadores dos EUA.
Noivo, e
pensando em se casar o quanto antes, o jovem carpinteiro (na época com 20 anos)
ficou interessado em uma vaga de faxineiro em um laboratório de pesquisas
médicas comandado pelo médico Alfred Blalock. Após breve entrevista, ele é
contratado e tem como principal função cuidar dos cachorros que
serão usados em experimentos nas mesas cirúrgicas.
Só que não demora muito para Thomas se interessar por algo a mais além das faxinas. Obcecado pela medicina, ele começa a ler os livros do
laboratório, quando não tem ninguém por perto, e a fazer anotações em seu
caderno. Um dia, muito distraído, mergulhado em um livro, ele não se
dá conta que Blalock está o observando e é pego de surpresa, tentando disfarçar
o inconveniente de estar bisbilhotando os materiais do doutor.
O médico,
instigado com a curiosidade e interesse do empregado pela medicina, começa a fazer
pequenos testes com ele, como, por exemplo, testar sua memória em relação aos
aparelhos hospitalares e testar suas habilidades com o manuseio de equipamentos
médicos. Vendo que seu subordinado é extremamente eficiente com o bisturi e que
está aprendendo medicina apenas com os livros, Blalock lhe nomeia como seu novo
assistente e não demora muito para que Thomas já esteja operando os cachorros
do laboratório.
Sonhando em fazer uma faculdade de medicina, Vivien Thomas
vê seu sonho naufragar quando o banco onde ele guardava todas as suas economias
fecha e quando descobre que sua mulher está grávida.
Em 1941, após um trabalho de sucesso em relação a choques
traumáticos, o doutor Alfred Blalock se torna chefe de cirurgia do conceituado
hospital Johns Hopkins e aceita a proposta com uma condição: levar Thomas junto
como seu assistente. Os dois já são muito amigos e a cada dia que passa os dois se tornam uma dupla de trabalho inseparável. Mas nem tudo são flores.
Thomas, por ser negro, sofre muito preconceito, tendo que entrar no hospital
pela porta dos fundos para não ser barrado pelos guardas.
Logo depois de assumir o comando do setor cirúrgico, Blalock se depara com o maior desafio de sua vida: encontrar um tratamento eficaz para
a “síndrome do bebê azul”. Essa síndrome origina uma deformidade no coração dos recém
nascidos, criando uma obstrução entre as artérias e o pulmão das crianças,
deixando-as a cada dia que passa com uma cor azul, até levar a morte, por falta
de irrigação sanguínea. Na época, os médicos descartavam uma intervenção
cirúrgica por dois principais motivos: até então não existia cirurgia cardíaca
confiável e o coração e as artérias dos bebês eram muito frágeis.
Mas Alfred Blalock e Vivien Thomas mergulharam fundo nas
pesquisas e, juntos, criaram uma técnica capaz de salvar as crianças. Através
de um método totalmente novo, a dupla conseguiu encontrar uma solução para a
síndrome. Foram anos de testes em cães, até que, finalmente, em 1944, puderam
aplicar a técnica em um bebê doente.
A primeira operação cardíaca aconteceu em
29 de novembro de 1944, em uma sala cirúrgica no Johns Hopkins repleta de
médicos conceituados, além dos diretores do hospital. Para a operação, Alfred
Blalock selecionou diversos médicos para o ajudarem. Só que Thomas não poderia
participar, pois não era médico formado. Blalock, no entanto, quebrou as regras e,
pouco antes da operação começar, chamou seu assistente e exigiu sua presença na sala de
cirurgia, dizendo: “não conseguirei sem você”. A cirurgia é realizada com
sucesso. Thomas praticamente guia Blalock, para o espanto de todos os médicos
ali presentes. Após a operação, todos comemoram o sucesso do procedimento e
definitivamente o Hospital Johns Hopkins entra para a historia mundial, ao
realizar a primeira cirurgia cardíaca do mundo.
Após o acontecido, Alfred Blalock se torna famoso
mundialmente, enquanto seu parceiro é esquecido e obrigado a arranjar outro
emprego para sustentar sua família. Apenas em 1968 Vivien Thomas é lembrado. Os
cirurgiões treinados por Thomas encomendaram uma pintura de seu retrato e o
colocaram ao lado do retrato de Alfred Blalock, no lobby do Hospital Johns
Hopkins, onde ficam os retratos dos médicos mais importantes que já passaram
por lá.
E em 1976, após 37 anos de trabalho, Thomas é agraciado com
um doutorado honorário em Doutor em Leis e nomeado professor na Escola de
Medicina como instrutor de cirurgia. Ele faleceu em 1985, por causa de um
câncer. Já Alfred Blalock faleceu em 1964 após sofrer uma parada cardíaca.
Retrato real, de Alfred Blalock e Vivien Thomas, no
Hospital Johns Hopkins
O filme é baseado em uma história real. A “grande depressão”, a síndrome do bebê azul, a técnica da primeira
cirurgia cardíaca realizada, são todos acontecimentos reais. O filme é fiel e
mostra a realidade do preconceito sofrido por Thomas, mas também mostra a
superação dele e a insistência e confiança de seu amigo e mentor Alfred
Blalock. Se não fosse a insistência de Blalock em manter seu assistente por perto e
ensiná-lo, provavelmente a medicina teria perdido muito tempo. O médico passou
por cima do preconceito da época e, mesmo ouvindo piadinhas e críticas de
amigos próximos, apostou, e apostou certo, em Vivien Thomas. Por outro lado,
Thomas não se deixou abater e sempre seguiu em frente com seu sonho de se
tornar médico. Mas, mais importante do que se tornar médico, foi a criação da
técnica que salvou milhares de bebês que morreriam aos poucos se ninguém tivesse
a coragem de mexer em seus corações. Um filme emocionante. Os atores são muito bons, o ambiente e o roteiro são perfeitos. Eu, particularmente, admiro muito os filmes que são baseados em fatos reais. Além de retratar um cenário real, esses tipos de filmes são como livros de história na telona. Claro que sabemos que nem sempre a história é fiel ao que realmente aconteceu. Ainda mais quando o filme é americano. Eles gostam de distorcer a realidade e muitas vezes aumentar suas façanhas ou esconder seus deslizes. Mas, pesquisando, além do filme, pude chegar à conclusão que a maioria das informações contidas no filme é verdadeira. Desde a relação entre os médicos, até a síndrome do bebê azul e ao procedimento cirúrgico inédito. Há relatos de intervenções cirúrgicas cardíaca antes da época do filme, mas, cirurgia cardíaca em bebês foi algo inédito que Alfred Blalock e Vivien Thomas, juntos, conseguiram após anos de pesquisas e testes em animais. A divisão entre brancos e negros é outro fato real que o filme ilustrou muito bem. Apesar de ser americano, o longa em momento algum escondeu o preconceito dos americanos para com seu próprio povo negro. Pelo contrário, esse preconceito é parte importante do filme e da história dos dois amigos. Portanto, o filme é fiel à história, tirando alguns fatos que não podemos afirmar que realmente aconteceu. Mas esses fatos são minúsculos comparado ao enredo do filme e à importância destes dois americanos para a medicina moderna.
Ficha técnica:
Nome original: Something the Lord Made (Quase Deuses no Brasil)
Atores
principais: Mos Def (Vivien Thomas); Alan Rickman (Alfred Blalock).
Ano: 2004
Duração: 1h50
Diretor: Joseph Sargent Prêmios: Três "Emmy Awards", em 2004 (Melhor Filme feito para Televisão, Melhor Fotografia e Melhor Edição). Um "Directors Guild of America Award", em 2005 (Melhor direção). Um "Writers Guild of America Award ", em 2005 (Melhor Roteiro). Um "NAACP Image Award", em 2005 (Melhor Filme para Televisão). Um prêmio Peabody (2005).
Todo mundo sabe que Arnold
Schwarzenegger é um dos atores mais bem sucedidos dos últimos tempos. A lista
de filmes da carreira do ator é enorme, e a maioria foi sucesso no cinema. Os
filmes de ação protagonizados pelo ator então... são os melhores do gênero.
Mas, o último filme elencado pelo ator deixou muito a desejar. Não estamos falando de Exterminador do Futuro
5, que estreia apenas no final de junho. Estamos falando do pouco comentado
“Maggie”, que tem data de lançamento prevista para julho, mas que já está
disponível para download (por que será?).
Na sua vasta carreira de ator, Schwarzenegger
já foi professor de creche (Um tira no jardim de infância), um pai de família
(Um herói de brinquedo) e até já ficou grávido (Junior). Mas acho que ele nunca
tinha enfrentado zumbis. Ou nunca tinha tido uma filha zumbi (não duvido que em
algum filme de ação ele já não tenha lutado contra zumbis...).
“Maggie” é inovador na carreira
do astro. Mas a temática já é clichê. E o filme é fraco. É aquela velha
história: vírus, epidemia, mordida, transformação, zumbi. Só que, geralmente em
filmes assim, o que prende as pessoas na tela é a ação, a luta contra esses
monstros e o drama vivido pelas pessoas. Só que em “Maggie” não há nada disso.
O filme lembrou o episódio mais chato de The Walking Dead.
A história toda se passa
praticamente em uma fazenda. Maggie (Abigail Breslin), a filha de Wade (Schwarzenegger), já começa o filme com a mordida de zumbi em um hospital. Ninguém sabe como ela foi
parar lá e muito menos como foi mordida. Wade então a resgata e a leva para
casa. Lá, ele passa a cuidar dela e, conforme os dias vão passando, ele vê a
filha se transformar em zumbi (!?!?).
A epidemia zumbi é pouco relatada
nessa história. Só algumas informações sobre uma quarentena, mas sem mais
detalhes. Os personagens são fracos. Além de Wade e Maggie, aparecem também a
madrasta de Maggie, alguns amigos, o médico da menina e alguns policiais que às
vezes fazem uma visita para Wade, para saber como sua filha quase-zumbi está
(!?!?).
Ah, e aparece o namoradinho de
Maggie, que também está se transformando em zumbi. Rola até um beijo entre
eles. Seria o primeiro beijo zumbi dos cinemas? Surreal! Eu não sei que diabos
o Schwarzenegger está fazendo nesse filme!!!
Enfim, será que conto o final?
Bom, Maggie se transforma em zumbi.
O filme é sonolento demais, sem
ação, sem cenários, sem história. Te dá sono, muito sono. Os diálogos se
resumem em: “Eu vou morrer pai” “Fique calma filha, eu te amo”. Sem contar que
a cena do “beijo zumbi” foi uma das coisas mais toscas que vi nos últimos
tempos. E olha que eu já assisti aquele filme que o Schwarzenegger fica
gravido...
É um filme de fim de carreira.
Claro que não vai manchar o currículo do Schwarzenegger, mas, sinceramente, não
precisava.
Ficha técnica:
Nome original: Maggie
Ano: 2015
Atores principais: Arnold Schwarzenegger
e Abigail Breslin
Em uma ilha da
Oceania, uma população negra sofre com a pobreza e condições de vida
primitivas e vive através dos recursos naturais da ilha, que são abundantes. Os
recursos são tão generosos que o local abriga a maior mina de cobre do mundo.
Parte da população de Bougainville sobrevive com o trabalho na mina.
Só que, em 1989, um
acontecimento muda o rumo de todos os seus moradores: uma guerra civil. De um
lado, o exército de Papua Nova Guiné, o país onde se localiza a ilha, do outro,
os rebeldes. A maioria desses rebeldes são jovens moradores da ilha. Nesta
guerra civil, milhares são mortos e a mina é fechada.
Os trabalhadores são transferidos
e mudam de país, deixando suas famílias na ilha. Com a situação caótica, o
governo determina que uma barreira seja feita, ou seja, ninguém mais entra e
nem sai do país. Os moradores de Bougainville se veem em uma situação ainda
mais precária, sem seus chefes de família e com recursos escassos. As escolas
são fechadas por falta de professores, já que todos saíram da ilha por conta da
violência da guerra.
Mas, Mr. Watts (Hugh Laurie) é o único
não-nativo da ilha a permanecer no vilarejo. E se torna o único homem branco do
lugar, chamando a atenção de todos os moradores, que não entendem o porquê dele
ficar em um lugar tão sofrido.
Só que Mr. Watts tem seus motivos. Casado com uma nativa do local, ele
decide reabrir a escola por conta própria e passa a ensinar as crianças. Como
não é professor de origem e não possui materiais de ensino (livros, cadernos,
etc), ele improvisa. Mr. Watts leva para a sala de aula um exemplar do livro
“Grandes Esperanças”, do escritor inglês Charles Dickens e começa a ler o
romance para as crianças. O livro encanta a todos e em pouco tempo até os pais dos
alunos estão acompanhando as aulas de Watts.
Fascinada pela história do livro e por Mr. Pip, personagem principal do
romance, a jovem Matilda (Xzannjah Matsi) é a mais entusiasmada com as aulas e
se torna muito próxima de Mr. Watts. O pai de Matilda era um trabalhador da
mina e foi transferido contra sua vontade, deixando a menina e sua mãe sozinhas
na ilha. Assim, Matilda vê no Mr. Watts a figura de um pai.
Mr. Pip se torna um mito na ilha, graças às leituras de Watts. O
protagonista da obra de Dickens é o assunto mais comentado de Bougainville,
fazendo com que as pessoas esqueçam um pouco a desgraça de uma guerra civil e a
ausência de seus familiares.
De “boca em boca”, o
nome “Pip” chega aos ouvidos do exército local, que pensa se tratar de uma pessoa
real, mais precisamente de um rebelde. Depois de o exército cometer atos
horríveis com os moradores, Matilda e Mr. Watts tentam provar que Pip é um
personagem fictício. Com isso, a história misteriosa de Watts vem à tona e
Matilda começa a entender a ligação de seu mentor com Bougainville. Além disso,
a jovem tem esperança de sair da ilha e encontrar seu pai.
O filme, de 2012, é
baseado em acontecimentos reais e no livro “O Sr. Pip”, de Lloyd Jones. O livro
“O Sr. Pip”, por sua vez, é baseado no livro “Grandes Esperanças” de Charles
Dickens.
A surpresa do longa
fica por conta da atriz Xzannjah
Matsi, que interpreta Matilda. Matsi,é natural de Papua Nova Guiné (Oceania) e
até então uma atriz desconhecida. Mas atuou de forma extraordinária ao
lado do já consagrado Hugh Laurie (eterno Dr. House). Por ser nativa da região,
creio que a atriz encontrou certa facilidade para atuar, coisa que uma atriz
americana, por exemplo, sentiria como um obstáculo. O carisma de Matilda chega
a ofuscar a bela atuação de Hugh Laurie. Em determinada parte do filme, ela se
torna a única protagonista, sem prejudicar a história. O diretor, no meu ponto
de vista, preparou Matilda, durante o filme, para que ela se tornasse a
personagem principal na parte final da trama. Aos poucos ela rouba a cena, criando
uma ligação muito forte com quem a assiste.
Já com Mr. Watts é o contrário. Ele
começa como personagem principal, mas aos poucos vai perdendo espaço. Isso não
desmerece de forma alguma o personagem. Pelo contrário. A atuação de Hugh
Laurie na primeira parte do filme é tão marcante que sua história é movida pela
curiosidade até o último minuto. Um filme não muito divulgado, nem tão
badalado, mas um filme de exceção, para se lembrado para sempre.
Ficha Técnica:
Título original: Mr
Pip
Ano: 2012
Atores principais:
Hugh Laurie (Mr. Watts) e Xzannjah
Matsi (Matilda).
Origem: EUA
Filmagens: Austrália/ Papua Nova Guiné/ Bougainville