"Pense num dia qualquer, e o subtraia, e veja que, sem ele, sua vida teria um rumo inteiramente diferente. Faça uma pausa, você que lê estas palavras, e, por um momento, pense na imensa corrente de ferro ou de ouro, de espinhos ou flores, que talvez jamais o tivesse encadeado, não fosse a formação do primeiro elo de um dia memorável." (Charles Dickens).

domingo, 26 de julho de 2015

Faça coisas boas, e coisas boas acontecem



“Sabe aquele tipo de cara que não faz nada além de coisas más e ainda se pergunta por que a vida é uma droga? Bem, eu era assim. Toda vez que uma coisa boa me acontecia, uma coisa ruim sempre estava esperando para acontecer. Carma. Foi quando eu percebi que tinha que mudar. Então fiz uma lista de todas as coisas más que tinha feito e, uma por uma, vou compensar todos os meus erros. Estou apenas tentando ser uma pessoa melhor. Meu nome é Earl.”

Essa é a abertura da série americana “My name is Earl” e ela já diz tudo, ou quase tudo, sobre a série. Earl, uma caricatura do cara “malandro”, que faz de tudo para tirar vantagem de qualquer situação, que não tem vergonha em não trabalhar e se sustentar com pequenos roubos e furtos. Ele e seu irmão, Randy, inseparáveis, vivem como nômades, sem residência, sem trabalho e cometendo delitos no condado de Camden, onde são muito conhecidos pelos moradores.

Um dia Earl compra um bilhete de loteria e ganha 100 mil dólares. Eufórico, sai correndo pela rua com o bilhete premiado e é atropelado. Ele acorda no hospital, enfaixado e sem o bilhete. Durante sua recuperação ele conhece, através da TV, o Carma. Mesmo confuso sobre o que é Carma e quem o criou, ele coloca uma coisa em mente: faça coisas boas e coisas boas acontecem. Ao sair do hospital, decide fazer uma lista de todas as coisas ruins que já fez (a lista é enorme) e compensar por cada uma delas. Ele começa juntando lixo do chão, para compensar o item 136: “Eu jogava lixo no chão”. Seu irmão, o Randy, não gosta da ideia e tenta convencer Earl para deixar a lista de lado. Enquanto ele recolhe o lixo do chão, encontra o bilhete premiado que havia perdido no acidente. Convicto que aquilo foi um sinal do Carma, Earl pega o dinheiro do prêmio e se dedica exclusivamente em realizar os itens da lista.

A partir daí, os episódios da série se baseiam em Earl concertando o que já fez de errado. Mas não é tão simples assim. Na maioria das vezes ele se depara com situações muito complicadas ou cômicas. Tem vezes que ele concerta um item, mas acrescenta outros na lista. Como, por exemplo, o item 112: “Deixar Donny Jones cumprir pena por um crime que eu cometi”, se torna muito difícil e delicado.

Mas a série não é baseada apenas em Earl. O irmão dele, Randy, também é destaque. Com certo tipo de déficit de atenção, Randy é o típico palhaço da turma. Com uma mentalidade infantil em um corpo de adulto, ele acompanha Earl em todos os lugares e faz tudo que o irmão manda. Os dois formam uma dupla que eu considero uma das melhores e mais divertidas do mundo das séries de TV.

Além dos irmãos, a série explora muito a ex mulher de Earl, Joy, o atual marido dela o “Crab Man” e a camareira do motel onde eles moram, a Catalina. Outros personagens com o tempo se tornam corriqueiros também, como, por exemplo, os pais de Earl.

O humor de "My name is Earl" é diferente do humor das atuais séries do gênero. Me lembra muito o "Chaves". É ao mesmo tempo malicioso e inocente. Tem piadas que só os adultos entenderão, e outras que toda a família poderá dar risada. É um seriado diferenciado.

Ficha:

Título original: My name is Earl
Estreia: 2006
Gênero: comédia
Duração por episódio: 20 min
Origem: EUA
Elenco principal: Jason Lee (Earl); Ethan Suplee (Randy); Eddie Steeples (Crab Man); Jaime Pressly (Joy); Nadine Velazquez (Catalina).
Número de temporadas: 4.  


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Hércules


A mitologia grega sempre é rica em histórias e lendas. Reais ou não, encantam todo mundo. A indústria dos desenhos animados, cinematográfica, da televisão, a indústria do consumo no geral, soube se aproveitar muito bem dessas lendas e criou um amplo mercado em torno da Grécia. Desenhos, filmes e seriados sobre a mitologia grega fazem parte da nossa cultura desde sempre.


Quem, entre 20 e 30 anos, não assistiu, na infância, ao menos um episódio do seriado “Hércules”, que era transmitido pelo SBT e futuramente pela Record? Hércules e Iolaus formavam uma dupla imbatível. O seriado foi gravado entre os anos 1995 e 1999, e chegou ao Brasil alguns anos mais tarde.

A Disney também se aproveitou da “febre” grega e produziu um seriado em desenho animado, entre os anos 1998 e 1999, que foi ao ar no Brasil até meados de 2003, no programa infantil “Disney Cruj”,

Mas quem é Hércules? Bom, segundo a lenda, Hércules é o filho de Zeus, o Deus dos Deuses, com uma mortal. Portanto, Hércules seria um semideus e ninguém sabe se ele é mortal ou imortal, mas possui uma força extraordinária e se torna um mito por onde passa. Na história original, Hera, esposa de Zeus, ao saber da traição de seu marido com uma mortal, fica com ódio de Hércules e tenta matá-lo de qualquer forma. Sem êxito, ela faz um feitiço atingir seu enteado e, em um ataque de loucura, Hércules acaba matando a esposa e seus três filhos. Após o ocorrido, os Deuses do Olimpo julgam Hércules e, para perdoá-lo, estipulam um desafio: os doze trabalhos. Os famosos “Doze trabalhos de Hércules”, são doze tarefas incumbidas ao mito que incluem enfrentar gigantes e outros seres da mitologia grega. Hércules consegue passar pelas doze tarefas com sucesso e acaba perdoado pelos Deuses, passando a viver livre.

A indústria do entretenimento colocou Hércules na geladeira por um bom tempo. Mas, ano passado, o diretor Brett Ratner deu nova vida ao semideus da mitologia grega. No filme “Hércules” Dwayne Johnson interpreta o semideus em uma jornada um pouco diferente das vistas nos outros filmes do gênero. No filme, Hércules vive afastado da sociedade, junto com um grupo de mercenários e sobrevive usando sua força para realizar trabalhos em troca de ouro.

Procurado pela Princesa Ergenia (Rebecca Ferguson), Hércules e seu grupo recebem uma proposta tentadora: se juntar ao exército de Trácia para enfrentar uma rebelião comandada por Resus (Tobias Santlemann) em troca de muito ouro. O Rei de Trácia, Cotys (John Hurt), dá total liberdade para Hércules transformar os soldados do reino em verdadeiros guerreiros. Quando a guerra eclode, o exército comandado por Hércules consegue uma grande vitória. Na hora de receber o pagamento, Hércules se dá conta que caiu numa emboscada e que o Rei Cotys é um sanguinário que tem planos perversos para ele. Tentando escapar de Cotys, Hércules tem que enfrentar seus traumas do passado, seus medos e vai precisar contar com a ajuda da sua equipe para tomar o controle da situação e destruir o reinado de Cotys.  



Ficha:

Nome original: Hércules
Ano:2014
Duração: 98min
Diretor: Brett Ratner
Atores principais: Dwayne Johnson (Hércules); John Hurt (Cotys); Reece Ritchie (Iolaus); Tobias Santlemann (Resus). 
Origem: EUA

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O Último Rei da Escócia



Entre 1971 e 1979, Uganda, país Africano, sofreu com o regime ditatorial de Idi Amin Dada. O ditador foi responsável por um governo cruel, que matou milhares de pessoas. Uganda conquistou sua independência do Reino Unido em 1962 e passou a adotar um regime presidencialista, pelo menos no papel. Após um golpe de Estado, Amin assumiu as rédeas do país. Em meio a corrupção, o presidente fez de tudo para calar os adversários, encobrir suas falcatruas e driblar a opinião pública.

No filme “O último Rei da Escócia”, a vida pública e pessoal de Amin é retratada de uma forma muito criativa. Através da história fictícia do Doutor Nicholas Garrigan (James McAvoy), as barbáries de Amin (Forest Whitaker) são mostradas detalhadamente em mais de duas horas de filme.

Recém formado em medicina, Nicholas tem o desejo de fazer algo grandioso e decide viajar para Uganda, para trabalhar como médico voluntário em uma comunidade local. Só que ele chega em uma péssima hora no país Africano: durante o golpe militar. Em meio ao golpe, o país se transforma em um caos e os hospitais, precários, estão lotados de pacientes.

O médico começa seu trabalho com muito empenho e logo conquista a simpatia dos moradores, por ser atencioso e eficiente. Até que um acontecimento muda o destino da vida do médico. Idi Amin Dada visita a comunidade e seu discurso encanta Nicholas Garrigan, que simpatiza com o novo presidente de Uganda.

Ao voltar para a Capital, Amin sofre um acidente de carro nos arredores da comunidade e Nicholas é incumbido para tratar os leves ferimentos do ditador. Durante os cuidados do médico, Amin simpatiza com Nicholas e os dois se tornam amigos. Tempo mais tarde, o governante o convida para ser seu médico particular. Apesar de surpreso e com um certo medo, Nicholas aceita e se muda para a Capital.

Com o passar do tempo, os dois ficam ainda mais próximos. Nicholas se torna, além de médico, o braço direito e conselheiro de Amin e começa a se envolver com questões políticas. Cada vez mais infiltrado no governo do ditador, Nicholas começa a ver as atrocidades cometidas pelo governante e fica indignado, a ponto de largar tudo e querer ir embora.


Só que Amin o mantém no país, confiscando seu passaporte e fazendo ameaças ao médico. A partir dai, Nicholas se vê em um beco sem saída e chega a conclusão que está lidando com um monstro. 

Pelo papel do tirano, o ator Forest Whitaker ganhou o Oscar de melhor ator. Justíssimo. Whitaker encarnou o ditador de uma forma tão profunda que determinados momentos do filme parecem que são reais. James McAvoy não ficou muito atrás, mas o Doutor Nicholas Garrigan foi um personagem inventado, diferente de Idi Amin Dada. A responsabilidade em interpretar alguém que de fato existiu e ainda por cima alguém tão cruel e complexo quanto um Ditador é enorme. Mas o filme foi muito bem feito, muitas vezes ao estilo documentário, e o diretor soube aproveitar esses elementos e o talento do protagonista. Esses filmes, que procuram relatar algum momento histórico, são como livros de história e devem ser apreciados, assistidos, indicados, enfim, compartilhados. 

Ficha:

Nome original: The Last King of Scotland 
Ano: 2006
Diretor: Kevin Macdonald
Gênero: Drama
Atores principais: Forest Whitaker (Amin); James McAvoy (Nicholas).
Idioma: inglês e suaíli
Duração: 2h08


terça-feira, 16 de junho de 2015

A Fonte da Vida

Três histórias que se passam em épocas diferentes. Na Espanha do século XVI, o explorador Tomas Creo (Hugh Jackman) é enviado para o “novo mundo” com o objetivo de encontrar a lendária árvore da vida. Diz a lenda que esta árvore está escondida graças aos Maias e que, quem beber de sua seiva, terá vida eterna. Ambiciosa e em busca da juventude, a Rainha Isabel da Espanha (Rachel Weisz) promete se casar com o explorador, caso ele consiga localizar a árvore. O aventureiro aceita a proposta apenas por causa do amor que tem pela Rainha, mas incrédulo, pois não acredita em lendas e muito menos em histórias bíblicas.


Nos tempos atuais, o médico pesquisador Tommy Creo (Hugh Jackman) vive com o drama de amar alguém com câncer em estágio avançado. O doutor é casado com Izzi (Rachel Weisz), que luta contra um severo câncer. Tommy divide seu tempo entre cuidar da esposa e fazer experimentos no laboratório. Em um desses experimentos, ele e sua equipe aplicam uma substância nova encontrada em uma árvore na América Central em um chimpanzé com um tumor maligno na cabeça. Para a surpresa de todos, a doença regride e as células do local onde foi aplicada a substância param de envelhecer. Tommy vê uma luz no fim do túnel e corre desesperadamente contra o tempo e contra todos para tentar salvar sua mulher e ir atrás dessa misteriosa árvore. Enquanto luta contra a doença, Izzi escreve um livro, no qual conta a história da “Fonte da Vida”, uma árvore da época de Adão e Eva, que tem o poder de proporcionar a vida eterna.

No século XXVI, o astronauta Tom (Hugh Jackman) se encontra em um lugar misterioso tentando desvendar mistérios da criação e se depara com uma misteriosa árvore, que tem todas as respostas para as questões da humanidade.

Deu pra perceber que as três histórias são protagonizadas pelos mesmos personagens. Em épocas muito diferentes. Conforme o filme vai evoluindo, estas três histórias se interligam. Não me pergunte como, pois tiraria toda a graça se eu contasse. Os enredos se juntam, em torno de um único objetivo: desvendar o mistério da “Árvore da Vida”, ou “Fonte da Vida”. Um filme que mistura ciência, religião, mitologia, folclore e história.

Se fosse dar uma nota ao filme, daria seis. Porque, apesar de todos esses elementos, o filme não encanta como “Cloud Atlas” encantou com suas histórias paralelas sobre reencarnação. O filme sofreu um corte radical no orçamento e chegou a ter as gravações encerradas, mas o diretor conseguiu o ressurgimento do filme, porém com um orçamento pela metade do original. Inicialmente, o papel de Tommy era para ser de Brad Pitt, e Hugh Jackman entrou após os cortes no orçamento. Mas, a meu ver, a mudança dos atores não prejudicou o filme. Talvez a questão orçamentária, sim. Um exemplo é a duração do longa. Pela profundidade da história (na verdade são três histórias), os 90 minutos (apenas) de filme são poucos e ainda assim em certos momentos ele fica muito parado. Mas a moral da história é muito boa e vale a pena assistir.



Ficha:
Nome original: The Fountain
Ano: 2006
Diretor: Darren Aronofsky
Atores principais: Hugh Jackman (Tommy Creo), Rachel Weisz (Izzi).
Duração: 1h15

Nacionalidade: EUA

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Residue

Véspera de virada de ano. Uma grande cidade do Reino Unido está em festa, como o resto do mundo. A jornalista e fotógrafa Jennifer Preston (Natalia Tena) está em seu apartamento comemorando a dada, junto com seu namorado e funcionário do governo, Jonas (Iwan Rheon).

No momento do show de fogos, porém, ocorre uma grande explosão em uma casa noturna no centro da cidade. A explosão é vista por Jennifer e Jonas pela janela do apartamento. Mais de duzentos jovens morrem com o incidente e o exército isola uma área de 8km² ao redor do local da explosão. As pessoas ficam confusas com um isolamento tão grande e logo é divulgada a informação que a área está em quarentena e que a explosão liberou resíduos tóxicos na cidade. O governo e as autoridades supostamente não sabem a origem da explosão, mas divulgam que a mesma danificou um depósito subterrâneo antigo de armas, por isso que todos os moradores da cidade correm o risco de contaminação.

Instigada e desconfiada de que o governo está escondendo algo, Jennifer começa a perambular pelos arredores da área da quarentena com sua câmera fotográfica e trava uma briga com seu namorado, Jonas, que insiste em dizer que o governo não está omitindo nada.

Coincidentemente (ou não...), a cidade vive um surto de suicídios bizarros, o que deixa os moradores mais apavorados ainda. Jennifer, em uma dessas aventuras ao redor da quarentena, se depara com uma jovem que comete suicídio na frente da jornalista. Assustada, mas curiosa ao mesmo tempo, Jennifer fotografa o corpo da jovem.

Em casa, ao passar as fotos para seu computador, a jornalista/fotógrafa vê algo revelador e passa a ficar mais desconfiada com o governo. Ela tem certeza que a explosão não foi um acidente e que talvez forças sobrenaturais estejam por trás disso tudo. Jonas também começa a desconfiar dos seus superiores e consegue entrar escondido na área da quarentena.

Percebendo o desaparecimento de Jonas, Jennifer vai atrás do namorado e também entra na área proibida. Lá dentro, os dois se deparam com algumas verdades e são perseguidos pelo exército.  Tentando fugir, os dois ao mesmo tempo buscam a verdade por trás disso tudo.
O filme é razoável. Não tem nada de especial, mas é bom, especialmente a trilha sonora, que dá um ar de total suspense ao longa. A falta de informações quanto ao motivo do incidente principal do filme pode ser interpretada como algo positivo ou negativo. É algo positivo porque o suspense está presente desde o início do filme. Pode ser considerado algo negativo para quem busca respostas, principalmente na parte final do filme. 

A questão do sobrenatural é pouco explorada e às vezes até surge a dúvida se é algo sobrenatural ou não. O filme é um pouco confuso nesse sentido. Mas os principais personagens são bem explorados. O relacionamento entre Jennifer e Jonas tem espaço, pois a história toda se passa praticamente em torno deles. E ninguém tem superpoderes, apesar dos elementos "do outro mundo". 

Destaque também aos atores que interpretam o casal principal do filme. Natalia Tena e Iwan Rheon são mais conhecidos por interpretarem Osha e Ramsay em Game of Thrones. Ótimos atores. Então o filme está em boas mãos. Recomendo. Para quem quiser sair um pouco da rotina de heróis, efeitos especiais incríveis e vampiros com poderes, é um bom filme. Lembrando, para assistir sem muitas expectativas. 

Natalia Tena e Iwan Rheon

Ficha:

Título Original: Residue
Ano de Lançamento: 2015
Gênero Drama
País de Origem Reino Unido
Tempo de Duração: 102 minutos
Direção Alex Garcia Lopez
Elenco principal: Natalia Tena (Jennifer); Iwan Rheon (Jonas); Danny Webb (Emeril Benedict); Franz Drameh (Willy G).
Fotos: Internet




segunda-feira, 1 de junho de 2015

Filme Quase Deuses

“-Vivien é nome de mulher.”

“-Sim, minha mãe tinha tanta certeza que viria uma menina, que foi logo escolhendo o nome.”

Esse diálogo marca o primeiro encontro entre o doutor Alfred Blalock (Alan Rickman) e o  humilde carpinteiro negro Vivien Thomas (Mos Def), em fevereiro de 1930. Thomas era um excepcional trabalhador, mas foi demitido por causa da crise, ou “grande depressão”, que começava a prejudicar os trabalhadores dos EUA.

Noivo, e pensando em se casar o quanto antes, o jovem carpinteiro (na época com 20 anos) ficou interessado em uma vaga de faxineiro em um laboratório de pesquisas médicas comandado pelo médico Alfred Blalock. Após breve entrevista, ele é contratado e tem como principal função cuidar dos cachorros que serão usados em experimentos nas mesas cirúrgicas.

Só que não demora muito para Thomas se interessar por algo a mais além das faxinas. Obcecado pela medicina, ele começa a ler os livros do laboratório, quando não tem ninguém por perto, e a fazer anotações em seu caderno. Um dia, muito distraído, mergulhado em um livro, ele não se dá conta que Blalock está o observando e é pego de surpresa, tentando disfarçar o inconveniente de estar bisbilhotando os materiais do doutor.

O médico, instigado com a curiosidade e interesse do empregado pela medicina, começa a fazer pequenos testes com ele, como, por exemplo, testar sua memória em relação aos aparelhos hospitalares e testar suas habilidades com o manuseio de equipamentos médicos. Vendo que seu subordinado é extremamente eficiente com o bisturi e que está aprendendo medicina apenas com os livros, Blalock lhe nomeia como seu novo assistente e não demora muito para que Thomas já esteja operando os cachorros do laboratório.

Sonhando em fazer uma faculdade de medicina, Vivien Thomas vê seu sonho naufragar quando o banco onde ele guardava todas as suas economias fecha e quando descobre que sua mulher está grávida.

Em 1941, após um trabalho de sucesso em relação a choques traumáticos, o doutor Alfred Blalock se torna chefe de cirurgia do conceituado hospital Johns Hopkins e aceita a proposta com uma condição: levar Thomas junto como seu assistente. Os dois já são muito amigos e a cada dia que passa os dois se tornam uma dupla de trabalho inseparável. Mas nem tudo são flores. Thomas, por ser negro, sofre muito preconceito, tendo que entrar no hospital pela porta dos fundos para não ser barrado pelos guardas.

Logo depois de assumir o comando do setor cirúrgico, Blalock se depara com o maior desafio de sua vida: encontrar um tratamento eficaz para a “síndrome do bebê azul”. Essa síndrome origina uma deformidade no coração dos recém nascidos, criando uma obstrução entre as artérias e o pulmão das crianças, deixando-as a cada dia que passa com uma cor azul, até levar a morte, por falta de irrigação sanguínea. Na época, os médicos descartavam uma intervenção cirúrgica por dois principais motivos: até então não existia cirurgia cardíaca confiável e o coração e as artérias dos bebês eram muito frágeis.

Mas Alfred Blalock e Vivien Thomas mergulharam fundo nas pesquisas e, juntos, criaram uma técnica capaz de salvar as crianças. Através de um método totalmente novo, a dupla conseguiu encontrar uma solução para a síndrome. Foram anos de testes em cães, até que, finalmente, em 1944, puderam aplicar a técnica em um bebê doente.

A primeira operação cardíaca aconteceu em 29 de novembro de 1944, em uma sala cirúrgica no Johns Hopkins repleta de médicos conceituados, além dos diretores do hospital. Para a operação, Alfred Blalock selecionou diversos médicos para o ajudarem. Só que Thomas não poderia participar, pois não era médico formado. Blalock, no entanto, quebrou as regras e, pouco antes da operação começar, chamou seu assistente e exigiu sua presença na sala de cirurgia, dizendo: “não conseguirei sem você”. A cirurgia é realizada com sucesso. Thomas praticamente guia Blalock, para o espanto de todos os médicos ali presentes. Após a operação, todos comemoram o sucesso do procedimento e definitivamente o Hospital Johns Hopkins entra para a historia mundial, ao realizar a primeira cirurgia cardíaca do mundo.

Após o acontecido, Alfred Blalock se torna famoso mundialmente, enquanto seu parceiro é esquecido e obrigado a arranjar outro emprego para sustentar sua família. Apenas em 1968 Vivien Thomas é lembrado. Os cirurgiões treinados por Thomas encomendaram uma pintura de seu retrato e o colocaram ao lado do retrato de Alfred Blalock, no lobby do Hospital Johns Hopkins, onde ficam os retratos dos médicos mais importantes que já passaram por lá.

E em 1976, após 37 anos de trabalho, Thomas é agraciado com um doutorado honorário em Doutor em Leis e nomeado professor na Escola de Medicina como instrutor de cirurgia. Ele faleceu em 1985, por causa de um câncer. Já Alfred Blalock faleceu em 1964 após sofrer uma parada cardíaca.

Retrato real, de Alfred Blalock e Vivien Thomas, no
Hospital Johns Hopkins
O filme é baseado em uma história real. A “grande depressão”, a síndrome do bebê azul, a técnica da primeira cirurgia cardíaca realizada, são todos acontecimentos reais. O filme é fiel e mostra a realidade do preconceito sofrido por Thomas, mas também mostra a superação dele e a insistência e confiança de seu amigo e mentor Alfred Blalock. Se não fosse a insistência de Blalock em manter seu assistente por perto e ensiná-lo, provavelmente a medicina teria perdido muito tempo. O médico passou por cima do preconceito da época e, mesmo ouvindo piadinhas e críticas de amigos próximos, apostou, e apostou certo, em Vivien Thomas. Por outro lado, Thomas não se deixou abater e sempre seguiu em frente com seu sonho de se tornar médico. Mas, mais importante do que se tornar médico, foi a criação da técnica que salvou milhares de bebês que morreriam aos poucos se ninguém tivesse a coragem de mexer em seus corações. Um filme emocionante. Os atores são muito bons, o ambiente e o roteiro são perfeitos. 

Eu, particularmente, admiro muito os filmes que são baseados em fatos reais. Além de retratar um cenário real, esses tipos de filmes são como livros de história na telona. Claro que sabemos que nem sempre a história é fiel ao que realmente aconteceu. Ainda mais quando o filme é americano. Eles gostam de distorcer a realidade e muitas vezes aumentar suas façanhas ou esconder seus deslizes. Mas, pesquisando, além do filme, pude chegar à conclusão que a maioria das informações contidas no filme é verdadeira. Desde a relação entre os médicos, até a síndrome do bebê azul e ao procedimento cirúrgico inédito. Há relatos de intervenções cirúrgicas cardíaca antes da época do filme, mas, cirurgia cardíaca em bebês foi algo inédito que Alfred Blalock e Vivien Thomas, juntos, conseguiram após anos de pesquisas e testes em animais. A divisão entre brancos e negros é outro fato real que o filme ilustrou muito bem. Apesar de ser americano, o longa em momento algum escondeu o preconceito dos americanos para com seu próprio povo negro. Pelo contrário, esse preconceito é parte importante do filme e da história dos dois amigos. Portanto, o filme é fiel à história, tirando alguns fatos que não podemos afirmar que realmente aconteceu. Mas esses fatos são minúsculos comparado ao enredo do filme e à importância destes dois americanos para a medicina moderna.

Ficha técnica:

Nome original: Something the Lord Made (Quase Deuses no Brasil)
Atores principais: Mos Def (Vivien Thomas); Alan Rickman (Alfred Blalock).
Ano: 2004
Duração: 1h50
Diretor: Joseph Sargent
Prêmios: Três "Emmy Awards", em 2004 (Melhor Filme feito para Televisão, Melhor Fotografia e Melhor Edição). Um "Directors Guild of America Award", em 2005 (Melhor direção). Um "Writers Guild of America Award ", em 2005 (Melhor Roteiro). Um "NAACP Image Award", em 2005 (Melhor Filme para Televisão). Um prêmio Peabody (2005).

OBS: Baseado em fatos reais

Trailer:



sexta-feira, 29 de maio de 2015

Filme de fim de carreira

Todo mundo sabe que Arnold Schwarzenegger é um dos atores mais bem sucedidos dos últimos tempos. A lista de filmes da carreira do ator é enorme, e a maioria foi sucesso no cinema. Os filmes de ação protagonizados pelo ator então... são os melhores do gênero.

Mas, o último filme elencado pelo ator deixou muito a desejar. Não estamos falando de Exterminador do Futuro 5, que estreia apenas no final de junho. Estamos falando do pouco comentado “Maggie”, que tem data de lançamento prevista para julho, mas que já está disponível para download (por que será?).

Na sua vasta carreira de ator, Schwarzenegger já foi professor de creche (Um tira no jardim de infância), um pai de família (Um herói de brinquedo) e até já ficou grávido (Junior). Mas acho que ele nunca tinha enfrentado zumbis. Ou nunca tinha tido uma filha zumbi (não duvido que em algum filme de ação ele já não tenha lutado contra zumbis...).

“Maggie” é inovador na carreira do astro. Mas a temática já é clichê. E o filme é fraco. É aquela velha história: vírus, epidemia, mordida, transformação, zumbi. Só que, geralmente em filmes assim, o que prende as pessoas na tela é a ação, a luta contra esses monstros e o drama vivido pelas pessoas. Só que em “Maggie” não há nada disso. O filme lembrou o episódio mais chato de The Walking Dead.

A história toda se passa praticamente em uma fazenda. Maggie (Abigail Breslin), a filha de Wade (Schwarzenegger), já começa o filme com a mordida de zumbi  em um hospital. Ninguém sabe como ela foi parar lá e muito menos como foi mordida. Wade então a resgata e a leva para casa. Lá, ele passa a cuidar dela e, conforme os dias vão passando, ele vê a filha se transformar em zumbi (!?!?).

A epidemia zumbi é pouco relatada nessa história. Só algumas informações sobre uma quarentena, mas sem mais detalhes. Os personagens são fracos. Além de Wade e Maggie, aparecem também a madrasta de Maggie, alguns amigos, o médico da menina e alguns policiais que às vezes fazem uma visita para Wade, para saber como sua filha quase-zumbi está (!?!?).

Ah, e aparece o namoradinho de Maggie, que também está se transformando em zumbi. Rola até um beijo entre eles. Seria o primeiro beijo zumbi dos cinemas? Surreal! Eu não sei que diabos o Schwarzenegger está fazendo nesse filme!!!

Enfim, será que conto o final?

Bom, Maggie se transforma em zumbi.

O filme é sonolento demais, sem ação, sem cenários, sem história. Te dá sono, muito sono. Os diálogos se resumem em: “Eu vou morrer pai” “Fique calma filha, eu te amo”. Sem contar que a cena do “beijo zumbi” foi uma das coisas mais toscas que vi nos últimos tempos. E olha que eu já assisti aquele filme que o Schwarzenegger fica gravido...

É um filme de fim de carreira. Claro que não vai manchar o currículo do Schwarzenegger, mas, sinceramente, não precisava.

Ficha técnica:

Nome original: Maggie
Ano: 2015
Atores principais: Arnold Schwarzenegger e Abigail Breslin
Diretor: Henry Hobson
Duração: 1h35

Origem: EUA/Suiça

Trailer: